Invisíveis ao sol quente caminharam nus pelo canal, mas os
olhos da cidade eram pequenos demais para ver tamanha ousadia.
Com música e poesia eles abriram o coração das pedras,
correram para secar, falaram do vento e de palhaços.
Vestida de preconceitos, a cidade ainda cega tateava folhas,
espumas e palavras sujas.
Fazia amor e tropeçava pelos poemas construídos pela inutilidade
de sua cegueira.
Os moradores se escondiam e fingiam ser feliz, adoravam
tramas, viviam de dramas, mas odiavam teatro.
Os loucos cantavam sonetos, fotografavam feitos, beijavam
sem leito e dançavam escondidos debaixo da miséria e da moral.
Na cidade não podia amar e a arte era vista como coisa de
vagabundos, que no intuito de ser feliz construíam mundos de versos e notas
musicais.
Abriram ruas que a cidade não via, saltaram por abismos de
desejos e navegaram sem destino.
Mendigavam o dia e não morrer à noite era sua recompensa,
adoravam as praças e com elas descobriram que toda verdade era um erro.
A cidade continuava com sua máscara vaidosa sem saber que a
vaidade é apenas uma das peles da alma.
A cidade e os artistas conviviam cegos uns dos outros e
cruzavam as mesmas ruas por destinos diferentes.
Uns eram donos, outros o inquilinos.
A cidade doente e os
artistas clãdestinos.
César Félix
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