31 de agosto de 2010

Homem de lata

A humanidade olha para o relógio e já não consegue ver as horas,
a modelo olha para o tempo e já não consegue se ver,
a água inunda as cidades e o corpo já não molha,
perdi a cor no retrato cinzento do meu querer.

Passei horas pela noite preferindo olhar pro espaço,
amanheci vi no lixo as marcas da solidão,
a floresta não brilhava, a fome não socorria e
tudo que eu queria era poder dizer não.

Na venda já não vendia a primavera dos homens
porco mordia porco e boi mugia com fome, 
Era então dos bichos mortos que o homem se alimentava
Porco matando porco, homem matando homem.

Fui transformado em lata e o cinza era minha cor,
o espelho não refletia, não sabia falar dor,
perdi a língua, os dentes, em silêncio agonizava,
senti o cheiro da morte pisando avenida,
chegou ela com uma flor e me socorreu pra vida.  

texto: César Félix

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