2 de janeiro de 2011

A menina da cafeteria


Ela tinha o sorriso mais bonito de cafeteria.

Estava lá todos os dias, cadeira cativa, jornal em punho e nenhuma xícara de café, adorava sorvetes. Sempre muito discreta, quase como uma esposa que sabia trair.

Aquele sorriso me beijava e tinha um sabor que só se é possível quando se beija uma mulher de touro.

Imediatamente lembrei-me de Antonia, minha primeira paixão, uma mulher que poderia muito bem trocar seu nome para desejo. A mulher que me ensinou que para um homem ser feliz é necessário apenas de uma noite.

Antonia tinha apenas 22, mas agia como e tivesse trinta: Eram suaves seus movimentos, delicadas suas atitudes. Ensaiava cada gesto antes de executá-los e adorava cinema. Talvez eu nem gostasse dela, talvez por ela eu não tivesse amor, se casado eu não duraria mais que duas noites com aquele desejo.

Certo dia eu estava tenso e Antonia me socorreu com uma massagem, lá pelas tantas veio a pergunta: Quantas mulheres você já pagou para deitar com você?

Eu, na qualidade de canalha ético assumido não me importei e respondi com a frieza de um advogado: Uma, somente uma Antonia, você.

Ela fingiu que acreditou, terminou a massagem, deitou sobre meu corpo e adormeceu, desde aquele dia não me cobrou mais um centavo.

Mais tarde, ao ver Antonia dormindo fiquei cativado por sua pele leite e me perguntei: Por que será que elas gostam tanto dos feios? Não tive tempo para arrependimentos, quando dei por mim eu já havia gostado da aventura, estava acostumado às camas de Antonia. Por muito tempo Antonia foi minha poesia predileta.

Amei somente duas coisas na vida e sempre fui muito confuso com elas, as mulheres e a poesia. Não sei se escrevo poemas por causa das mulheres ou se me interesso por mulheres pelo fato de elas me oferecerem ótimos poemas. Tenho a impressão que sem a poesia minha paixão por elas não existira, ao mesmo tempo em que sem elas não existiriam metade de minhas poesias. Gosto delas porque gosto de poesia.

Poetas diante da beleza agem como vampiros diante do sangue, amam para não morrer. Nunca tive vontade de morrer, mas admiro os que sabem morrer de amor. A única inveja que tive dos mortos é que nunca choveu no dia do meu aniversário.

Volto a organizar minhas letras e lá se vai mais um poema. Ela aceitou a oferta, pegou meu telefone e retornou um bilhete em que estava escrito: 23 horas, em frente à biblioteca da floresta.

Pegou um sorvete de cupuaçu, sorriu de lado e fechou a porta da cafeteria.

Morrerei de madrugada, a hora que morre os que sabem morrer.

Texto e fotografia: César Félix

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