Caminhei sobre a ponte metálica às 3 da manhã e ela estava tão solitária quanto eu.
Lembrei da multidão que a cercava no dia da inauguração.
O segundo distrito encontrava-se iluminado e triste.
No mercado velho somente almas.
As putas e a vida foram expulsas do ambiente e um bêbado chorava abraçado numa estatua, última recordação de algo semelhante a gente.
Naquele minúsculo quadrado de tempo, nada parecia como antes.
O espelho não refletia, os ouvidos estavam moucos, a cidade dormia e o apartamento estava vazio como minha vida.
E lá se foi mais um suspiro de história, pequenos reflexos de vida registradas nas entranhas de quem as viveu.
Antes, minha mente funcionava como uma máquina fotográfica e registrava tudo. Agora falha. São tantos clics que já não lembro o primeiro, são tantos fatos que já me cansam os passos, são tantos quadros que a parede de minha alma ficou pequena.
Muito do que marcava uma época, agora já não vale nada. Muito do que não se valia, agora é o único registro. Aquela foto embaçada, aquele foco distorcido, aquela mão que treme é o único coração que pulsa.
Mergulho na história como se mergulhasse n`água e deslizo sonâmbulo por entre as feridas abertas da memória.
A dúvida me empurra para a vida e eu recuso o que sempre sonhei.
A chuva cai sobre Rio Branco e molha somente o que tenho de sede.
Minha boca seca cala e arde esperando que a cidade amanheça para que eu durma e não precise pensar.
O esquecimento ajudar anestesiar a dor.
O silêncio exige silêncio, mas os passos continuam e eu os ouço, como se alguém caminhasse sobre minha cabeça.
Texto: César Félix
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