Naquele dia ela estava furiosa, ele chegara bêbado e quebrara mais um copo, o oitavo, somente naquela semana. Desta vez ele estava diferente, sua agressividade exalava um odor dúbio que o denunciara: Mulher e cachaça.
- Assim não pode ser, faço de tudo o que ele quer e mais uma vez e ele me chega como um trapo, assim não dá, assim não dá.
Ele não baixou a crista, nunca fora homem de baixar a crista, sorriu como um patife e pegou o violão, murmurou baixinho uma música de Cartola: “esquece nosso amor, vê se esquece, porque tudo no mundo acontece...”
- Assim não pode ser, desse jeito vou procurar outro homem, músico não dá, prefiro outro, mesmo que seja um jornalista.
Ao silêncio do comentário, na pausa do reclame, a resposta do marido: Um copo de cachaça na cara.
Ela não se intimidou, nunca fora mulher para intimidações, pegou o vilão e partiu-lhe na cabeça. Uma tacada em Dó. Dó maior.
O orgulho do músico estava ferido, passara anos para adquirir aquele violão, na roda de choro todos o elogiavam: O som é único, quase que toca sozinho, não se existe mais dessa madeira, contam que certa vez Guinha Ramires chorou ao ouvir três acordes, mas ele estava ali, no assoalho e dividido em seis partes, quase como uma ópera.
O revide foi certo, nunca havia dirigido nem se quer uma reunião do movimento estudantil, mas foi na garagem, pegou o carro e saiu em disparada, como Roberto Carlos em ritmo de ventura. Ela ficou com os nervos a flor da pele, ganhara o carro de sua mãe há dois meses, cuidava como se fosse um filho e ainda negociava o seguro.
Passaram uma, duas, três horas e nenhuma notícia, nem se quer um telefonema.
Deve estar bêbado com o carro cheio de mulher, pensava ela.
Já próximo das 19 horas o telefone tocou. Era da polícia. Delegado Benevides com uma voz mansa, mais parecendo um padre informava: Encontramos o carro dentro da lagoa.
E o corpo? Perguntou ela.
Ele está bem disse o delegado, apenas desmaiou, encontramos ainda na superfície, molhado e bêbado. Desta vez ele passara dos limites, nunca fora tão longe, imperdoável!
Ao chegar em casa eles se abraçaram, choraram juntos, ambos pediram perdão, ambos se perdoaram. A noite ela fez sopinha, sua comida predileta. Abriu um vinho especial, presente de casamento de uma tia francesa. Nenhuma intriga, somente carinhos. As dez foram para a cama, às carícias evoluíram e ela pediu ao pé do ouvido, baixinho, quase como um sussurro:
- Deixa eu te amarrar?
Ele deu os braços, depois as pernas. Estava entregue a volúpia juvenil.
Fizeram sexo, muito sexo!
Às duas da manhã a surpresa final. O chicote.
Boatos contam que era um fio, mas não, anos depois ele mesmo admitiu, era chicote.
Ao som de Luiz Melodia ela bateu, desobedeceu e bateu, enlouqueceu e bateu.
Ele gritava, urrava de dor, chamou todos os palavrões possíveis, nunca xingara tanto uma mulher.
E após horas de martírio murmurava o último dos palavrões: mais, mais, mais...
Texto e fotografia: César Félix
kkk muito bom, mas eu não deixei de notar uma mera semelhança com alguma realidade kkkkkk na real foi o mesmo q ve os dois kkkkkk com requintes de ficção cezistica claro!
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